O ensino de ciências ainda está pouco focado
em estimular o estudante a pensar de forma científica para resolver problemas;
mas há projetos tentando mudar isso.
Imagine se na escola, na aula de ciências,
você tivesse oportunidade de fazer uma “noite no museu”, observar planetas,
fazer um modelo do sistema solar e construir modelos de foguetes? Ou participar
de um projeto da NASA e caçar asteroides? Ou ainda, ter a oportunidade de
responder a um problema real da sociedade, fazendo experimentos em um
laboratório dentro de uma universidade? Alunos de escolas públicas de Araruama
(RJ), Taperoá (PB) e Serra (ES) fizeram tudo isso, e muito mais.
Os professores responsáveis por estes
projetos, todos em escolas públicas, foram agraciados na última semana com o
prêmio “Educação Científica”, concedido pela Federação de Sociedades de
Biologia Experimental (FESBE), em parceria com o Instituto Questão de Ciência
(IQC). A proposta é estimular a criatividade no ensino de ciências, formando
pensadores críticos e questionadores. O ensino de ciências no Brasil, e em boa
parte do planeta, ainda é feito de modo excessivamente conteudista: muito
focado em apresentar a ciência como uma lista de fatos que caem na prova, algo
pouco capaz estimular o estudante a pensar de forma científica para resolver
problemas. Os premiados de 2022 trouxeram projetos que envolveram muito empenho
e engajamento, tanto dos professores como dos alunos.
O terceiro lugar ficou com Luísa Rieth Uber,
da Escola Municipal Agostinho Franceschi, em Araruama. Ela implementou um
projeto chamado “Aula Noturna”, com uma imersão em temas de Astronomia e
Astronáutica. Os alunos fizeram modelos do sistema solar, construíram foguetes
com garrafas de PET, fizeram observação da Lua Cheia com lunetas caseiras,
confeccionadas com canos de PVC e lentes recicladas. E ainda participaram de
uma roda de conversa com duas cientistas do projeto Minerva Rockets UFRJ, do
time aeroespacial da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O segundo lugar coube a Felipe Sérvulo Maciel
Costa (foto), da Escola Cidadã Integral Técnica Estadual Melquíades Vilar, em
Taperoá. Felipe envolveu alunos do segundo ano do ensino médio com a
astronomia, usando o aplicativo Stellarium, um simulador do céu, e o projeto de
busca de asteroides IASC (International Astronomical Search Colaboration –
Colaboração Internacional de Busca Astronômica), da NASA. Os alunos descobriram
três asteroides que nunca tinham sido detectados, e que agora já estão
catalogados no site da NASA.
O primeiro lugar foi para Camila Reis dos
Santos, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Rômulo Castello, em
Serra. Durante seu doutorado, Camila, que continuou atuando como professora de
ciências enquanto trabalhava na tese, colocou uma questão social para os
alunos. Partindo de uma reportagem publicada no portal G1, sobre o problema da
salinização em áreas irrigadas do Nordeste, a professora estimulou os
estudantes a desenhar um estudo para avaliar estratégias de recuperação de
sementes submetidas à seca e salinidade. Os alunos tiveram acesso aos
laboratórios da Universidade Federal do Espírito Santo para dar início aos
experimentos, aprenderam técnicas de germinação de sementes, conceitos
científicos importantes como grupos controle e, principalmente, tiveram a
oportunidade de conduzir um experimento científico para responder a uma questão
real.
Trabalhos como estes, e o esforço dos mestres
e alunos, servem de exemplo, inspiração e alerta . Os projetos foram iniciativa
dos professores, em seu tempo livre. Formar pessoas capazes de pensar de forma
crítica e racional produz cidadãos menos vulneráveis a notícias falsas e
mentiras. Luísa, Felipe e Camila mostraram que é possível. Mas ensinar a pensar
de forma científica deveria ser a regra, não a exceção. Projetos de ciência
“mão na massa” para jovens deviam ser política pública, não depender de mestres
heroicos e abnegados.
Fonte: Da Paraíba