No período de 22 anos, o
Nordeste foi a única região brasileira a apresentar aumento (13,77%) nos
índices de mortalidade por doenças cardiovasculares, segundo um levantamento
que envolveu pesquisadores da Fiocruz, pelo Ministério da Saúde e por universidades
federais e estaduais. Especialistas da Sociedade Brasileira de Diabetes
suspeitam que o diabetes tenha um papel expressivo nesse aumento, bem como a
hipertensão.
Uma nova pesquisa da SBD e do
IBOPE avaliou o grau de conhecimento dos brasileiros sobre as complicações do
diabetes. Os dados foram alarmantes: a maioria das pessoas teme, apenas,
amputação e cegueira, sendo que infarto, AVC e acometimento renal são as
complicações potencialmente fatais.
Dados da SBD apontam que
aproximadamente metade dos pacientes com diabetes tipo 2 (46,3%) desconhecem
sua condição, por se tratar de uma doença com poucos sintomas, o que os torna
vulneráveis às suas consequências cardiovasculares e renais.
De acordo com a pesquisa, os pacientes
desse tipo (2) têm risco de duas a quatro vezes maior de morrer devido a uma
doença cardiovascular (DCV), em comparação com o restante da população,
tornando o problema a principal causa de óbito nesse grupo. O AVC isquêmico é
de duas a quatro vezes mais frequente em pacientes com diabetes e a nefropatia
diabética, caracterizada por uma disfunção nos rins, é a principal causa de
insuficiência renal crônica terminal no mundo, acometendo de 20 a 40% dos
indivíduos diabéticos.
Ao Portal Correio, o motorista
João da Silva Paiva Filho, que tem diabetes do tipo 2, disse que não tinha
conhecimento sobre as possíveis complicações cardíacas, renais e cerebrais que
a doença poderia ocasionar. “Meu maior medo, até então, era de aumentar as
taxas e progredir para uma diabetes do tipo 1, que provoca, dependendo do caso,
a amputação e a cegueira. Eu não sabia que a doença poderia acarretar, por
exemplo, AVC, porque eu nunca vi casos.”
Já para Micaella Fernandes, 19,
estudante de Odontologia e portadora de diabetes tipo 1 (infanto-juvenil), a
possível ocorrência de complicações cardíacas não é novidade. Ela contou ao
Portal como descobriu que era diabética tão precocemente. “Descobri aos 17
anos, hoje estou com 19. Os sintomas apareceram repentinamente, o que me fez
procurar um médico para a solicitação de exames de sangue. Sede em excesso,
boca seca, urinando frequentemente e cansaço constante. Após a realização dos
exames, a patologia foi confirmada. Os sintomas não eram tão claros, mas, com o
pouco conhecimento que já tinha a cerca da doença, pude detectar que algo não
estava normal diante dos indícios apresentados. A glicemia estava em torno de
580. Hoje faço acompanhamento com endocrinologista, testes glicêmicos diários,
aplicação de insulina uma vez ao dia e uma dieta bem específica, além do
auxílio do cardiologista, oftalmologista, angiologista e psicólogo”.
Ela ainda destacou o quanto é
difícil conviver com a doença: “Meu acompanhamento com psicólogo semanal é
exatamente para um apoio emocional quanto ao medo da doença. Mesmo seguindo
corretamente todas as orientações médicas, a dificuldade em aceitar é um grande
obstáculo a ser superado. O sentimento de negação sempre fez parte dos meus
dias desde a confirmação do diagnóstico. O medo da cegueira, de uma possível
complicação em uma futura gestação, de achar que terei mãos e pernas amputadas
vem, talvez, por ser tão jovem e ainda ter tanto tempo junto a doença”.
Porém, em decorrência da
situação da leigalidade da maioria dos diabéticos, a SBD lançou a campanha
‘Diabetes sem Complicações’, divulgada nas redes sociais, por meio de um vídeo
protagonizado pelo casal Flávia Alessandra e Otaviano Costa, que alertam para
as complicações renais e cardiovasculares do diabetes.
Confira a pesquisa completa
A pesquisa Diabetes sem
Complicações, que foi realizada pela Sociedade Brasileira de Diabetes, em
parceria com o IBOPE Inteligência, teve a participação de 600 internautas,
sendo 145 pacientes com diabetes de várias cidades do Brasil.
Os resultados demonstraram que as
alterações cardiovasculares e renais associadas ao diabetes, embora sejam
potencialmente fatais, não estão entre as principais preocupações dos
entrevistados:
- Menos da metade dos
entrevistados (42%) citou as doenças cardíacas como as consequências mais
relevantes — e, mesmo entre os diabéticos, elas só foram mencionadas por 56%;
- O comprometimento dos rins
também não está entre os temores mais frequentes. Ele foi destacado por,
somente, 55% dos participantes e 72% dos diabéticos, especificamente;
- Quando questionados sobre o
maior medo em relação ao diabetes, apenas 6% pontuaram “ter alguma doença
renal”; 3%, “ter alguma doença cardíaca”; e 21%, “morrer”. A maioria teme a
amputação de algum membro (32%) e ficar cego (32%);
- 18% dos pacientes não sabem o
tipo de diabetes que têm;
- Mais de 1/4 dos entrevistados
(28%) acreditam que o diabetes é uma doença exclusivamente de idosos, revelando
desconhecimento sobre o fato de que ela pode acometer, inclusive, crianças e
jovens.
Com Portal Correio