Qualquer som que esteja em
volume alto pode ocasionar o que os especialistas chamam de perda auditiva
induzida por ruído, que é a diminuição da audição por contato com barulhos
intensos e frequentes. Antes, o problema era mais diagnosticado em profissionais
que trabalhavam em áreas que contavam com equipamentos emissores de ruídos.
Porém, na atualidade, especialistas identificam um novo público vulnerável à
perda auditiva: os adolescentes e jovens.
Nessa história, há mais de um
vilão: as baladas com música alta, os shows e –o mais preocupante de todos– o
fone de ouvido, que costuma ser utilizado para ouvir música no transporte para
a escola, na academia ou mesmo para caminhar por uma rua movimentada.
“Esses locais normalmente
possuem um nível de ruído alto, que compete com a música. Por isso, a tendência
é aumentar ainda mais o volume”, afirma o médico otorrinolaringologista Fausto
Nakandakari, do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
“Para ter uma ideia, o ruído de
um ônibus gira em torno de 85 decibéis. Então, para ouvir música de forma
confortável dentro dele, é preciso colocar o som 20 decibéis acima, chegando
perto dos 105 decibéis. Os nossos ouvidos suportam com segurança 30 minutos
diários de exposição a esse volume. O problema é que esse tempo costuma ser bem
maior no dia a dia do jovem”, diz Nakandakari.
Quando esse limite é
ultrapassado com frequência, começa a ocorrer uma degeneração das células
localizadas na cóclea, parte auditiva do ouvido interno.
“Quando o ruído cessa, as
células voltam ao estado normal, mas esse processo de degenerar e recuperar não
resiste muito tempo. Em um período de cinco a dez anos, em média, essas células
morrem e acontece a perda auditiva permanente”, explica a fonoaudióloga Daniela
Dalapicula Barcelos, especialista em audiologia pelo Conselho Federal de
Fonoaudiologia.
Segundo Daniela, anos atrás, o
problema era atenuado por conta da própria tecnologia dos dispositivos de
música, que funcionavam por pouco tempo entre uma troca de pilha e outra. O
mesmo não acontece com os gadgets modernos, que podem ficar ligados durante o
dia inteiro antes de serem carregados. O design do fone também influencia: os
que são colocados dentro do ouvido são os mais prejudiciais.
Para perceber se o adolescente
está com algum nível de perda auditiva, alguns sinais devem ser observados:
necessidade de aumentar o volume da televisão para ouvir, dificuldade de
entender o que as pessoas falam em ambientes amplos, ansiedade e irritação
causados por não ser compreendido e até alterações no sono e nos batimentos
cardíacos.
A perda auditiva só pode ser
confirmada por meio de exames médicos e, uma vez constatada, não pode ser
revertida. “O tratamento é a colocação de aparelhos auditivos”, fala
otorrinolaringologista Nakandakari.
Cuidados necessários
A melhor saída, então, é
prevenir. Os especialistas garantem que é possível levar uma vida social ativa
sem prejudicar a audição. “Não precisa deixar de ir a festas, basta fazer uma
compensação. Se o adolescente é assíduo em casas de show, deve evitar o fone de
ouvido. Se ficou exposto a sons elevados por muito tempo em um dia, pode fazer
repouso auditivo nos dias seguintes”, afirma Daniela.
Sempre que possível, deve-se
preferir o som ambiente –no computador, no celular ou ao jogar games. Ao usar
fones, o volume médio do dispositivo não pode ser ultrapassado.
“Uma dica prática para saber se
o som está trazendo riscos à audição é verificar se outra pessoa consegue ouvir
o ruído do fone. Mesmo estando ao lado de quem escuta uma música, o ideal é não
ouvir nada”, declara a fonoaudióloga Isabela Papera de Carvalho, responsável
pelo setor de audiologia de uma empresa de aparelhos auditivos com sede na
cidade do Rio de Janeiro.
Um som com intensidade acima de
80 decibéis já é considerado alto. “É a intensidade do som de um secador de
cabelos e de um liquidificador”, diz Isabela.
Exames preventivos, como a
audiometria, também são importantes para diagnosticar precocemente problemas
auditivos e devem ser feitos a cada dois anos.
“Se a pessoa trabalha em um
local que tem muito ruído, como uma casa noturna ou uma academia, ou se faz uso
diário de fones de ouvido, deve reduzir esse intervalo para um ano ou até seis
meses, conforme recomendação médica”, afirma a fonoaudióloga Daniela.
Uol